A Oração de Santo Agostinho

 No parágrafo 67 do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort nos apresenta uma oração profunda e cheia de significado, atribuída a Santo Agostinho. Essa oração, rica em espiritualidade e devoção, é uma expressão de total amor, entrega e desejo de união com Cristo. Aqui, exploraremos o conteúdo e a beleza dessa oração, buscando compreender sua mensagem e aplicá-la à nossa vida espiritual.

O Coração da Oração

A oração começa com um reconhecimento sublime de quem é Jesus Cristo:
"Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho..."

Cada título atribuído a Cristo é uma afirmação de Sua identidade e Sua relação com a alma humana. Santo Agostinho, em sua experiência mística, nos convida a refletir sobre quem é Jesus para cada um de nós. Ele é o Pai que cuida, o Mestre que guia, o Pastor que protege, o Caminho que conduz à pátria celeste. Essas imagens não apenas revelam aspectos de Cristo, mas também despertam em nós a necessidade de nos rendermos completamente a Ele.

A Busca Incessante por Cristo

A oração também expressa a inquietude da alma que, ao reconhecer a grandeza de Jesus, percebe sua própria demora em amá-Lo plenamente:
"Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão Vós? Onde estava eu quando não pensava em Vós?"

Essa passagem nos lembra a famosa frase de Santo Agostinho em suas Confissões“Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti.” O ser humano, criado para o amor de Deus, só encontra verdadeira paz e felicidade quando direciona todos os seus desejos e esforços para Cristo.

O Incêndio do Amor Divino

A oração culmina com um desejo ardente:
"Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor..."

Essa imagem do fogo, tão presente na tradição cristã, simboliza a purificação e o zelo ardente pelo Senhor. Santo Agostinho clama para que o amor de Cristo consuma sua alma por completo, transformando cada aspecto de sua vida em uma oferta de louvor e adoração.

Um Convite à Meditação

Recitar esta oração, seja em latim ou na tradução em português, é um ato profundo de devoção. Ao meditar sobre suas palavras, podemos nos unir à alma de Santo Agostinho em seu desejo de amar a Cristo acima de todas as coisas. Eis alguns passos para aproveitar ao máximo essa oração em nossa vida espiritual:

  1. Leia a oração com calma, refletindo sobre cada título e qualidade atribuídos a Jesus.
  2. Medite sobre seu próprio relacionamento com Cristo. Quem é Ele para você? Que lugar Ele ocupa em sua vida?
  3. Reze com sinceridade, pedindo que seu coração seja inflamado pelo amor divino.
  4. Comprometa-se a buscar a Cristo com mais fervor, deixando de lado tudo o que o distrai desse objetivo.
Nesta publicação, apresentamos a belíssima Oração de Santo Agostinho, citada no parágrafo 67 do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. O texto é disponibilizado em latim e em português, permitindo que os leitores rezem e meditem sobre as sublimes palavras deste santo doutor da Igreja.

Texto em Latim

Tu es Christus, pater meus sanctus, Deus meus pius, rex meus magnus, pastor meus bonus, magister meus unus, adiutor meus optimus, dilectus meus pulcherrimus, panis meus vivus, sacerdos meus in aeternum, dux meus ad patriam, lux mea vera, dulcedo mea sancta, via mea recta, sapientia mea praeclara, simplicitas mea pura, concordia mea pacifica, custodia mea tota, portio mea bona, salus mea sempiterna...
Christe Iesu, amabilis Domine, cur amavi, quare concupivi in omni vita mea quidquam praeter te Iesum Deum meum? Ubi eram quando tecum mente non eram? Iam ex hoc nunc, omnia desideria mea, incalescite et effluite in Dominum Iesum; currite, satis hactenus tardastis; properate quo pergitis; quaerite quem quaeritis. Iesu, qui non amat te, anathema sit; qui te non amat, amaritudinibus repleatur...
O dulcis Iesu, te amet, in te delectetur, te admiretur omnis sensus bonus tuae conveniens laudi. Deus cordis mei et pars mea, Christe Iesu, deficiat cor meum spiritu suo, et vivas tu in me, et concalescat in spiritu meo vivus carbo amoris tui et excrescat in ignem perfectum; ardeat iugiter in ara cordis mei, ferveat in medullis meis, flagret in absconditis animae meae; in die consummationis meae consummatus inveniar apud te... Amen.


Tradução em Português

Vós sois, ó Jesus, o Cristo, meu Pai santo, meu Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade, meu bem-amado de uma beleza maravilhosa, meu pão vivo, meu sacerdote eterno, meu guia para a pátria, minha verdadeira luz, minha santa doçura, meu reto caminho, sapiência minha preclara, minha pura simplicidade, minha paz e concórdia; sois, enfim, toda a minha salvaguarda, minha herança preciosa, minha eterna salvação...

Ó Jesus Cristo, amável Senhor, por que, em toda a minha vida, amei, por que desejei outra coisa senão Vós? Onde estava eu quando não pensava em Vós? Ah! que, pelo menos, a partir deste momento meu coração só deseje a Vós e por Vós se abrase, Senhor Jesus! Desejos de minha alma, correi, que já bastante tardastes; apressai-vos para o fim a que aspirais; procurai em verdade aquele que procurais. Ó Jesus, anátema seja quem não vos ama. Aquele que não vos ama seja repleto de amarguras.

Ó doce Jesus, sede o amor, as delícias, a admiração de todo coração dignamente consagrado à vossa glória. Deus de meu coração e minha partilha, Jesus Cristo, que em Vós meu coração desfaleça, e sede Vós mesmo a minha vida. Acenda-se em minha alma a brasa ardente de vosso amor e se converta num incêndio todo divino, a arder para sempre no altar de meu coração; que inflame o íntimo do meu ser, e abrase o âmago de minha alma; para que no dia de minha morte eu apareça diante de vós, inteiramente consumido em vosso amor...

Amém.


Conclusão

A oração de Santo Agostinho, tão belamente apresentada no Tratado da Verdadeira Devoção, é um chamado à conversão e ao amor total a Cristo. Que, ao recitá-la, possamos também permitir que nosso coração seja consumido pelo fogo do amor divino, vivendo cada dia com maior entrega ao Senhor.

Amém!

 


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