Dia 25 de 33 - A verdadeira liberdade nasce do abandono confiado nas mãos da Mãe

 Ao começarmos mais um dia desta preciosa etapa, voltamos nosso olhar àquela que, sendo toda de Deus, torna-nos também livres para amar. A consagração total à Santíssima Virgem, como nos ensina São Luís Maria, não é um peso, mas um caminho de verdadeira liberdade interior. Libertamo-nos do escrúpulo, da vaidade, do orgulho espiritual e da insegurança, porque tudo foi entregue a Maria — e em suas mãos nossas virtudes são purificadas, fortalecidas e protegidas.

Hoje, somos convidados a confiar mais profundamente. Maria é o vaso espiritual e puríssimo onde podemos depositar todas as graças recebidas, sem medo de perdê-las. Ela é a âncora firme no mar agitado do mundo, como diz São Bernardo; e ao confiarmos nossa vida a ela, experimentamos uma estabilidade que nem mesmo os maiores santos alcançaram sem sua intercessão constante.

Essa entrega total, que parece ousada aos olhos do mundo, é na verdade o segredo dos que perseveram. São Boaventura, São Bernardo, Santo Afonso e tantos outros confirmam: quem entrega tudo a Maria, recebe tudo de volta mais puro, mais forte, mais fecundo. Em suas mãos, nossa alma encontra abrigo, e nossos atos, mesmo os menores, são preservados da corrupção do pecado.

📌 Que hoje, então, aprendamos a dizer com verdade: “Omnia mea tua sunt, et omnia tua mea sunt” — tudo o que tenho é teu, Maria, e tudo o que é teu, é meu. Essa união total é a fonte da coragem para enfrentar as tentações, da fidelidade na provação, e da verdadeira paz interior.


Agora, com reverência e fé, iniciemos nossas orações:

📿 Vinde, Espírito Criador | Ave Maris Stella | Ladainha de Nossa Senhora

🙏 Antes de iniciar a leitura espiritual, pare por um instante e faça as orações com atenção e amor, pedindo com sinceridade à luz do Espírito Santo e ao auxílio da Santíssima Virgem.

📌 Sem oração, não há fruto. Sem humildade, não há transformação.

Ave Estrela do Mar (Ave Maris Stella)
Ave, do mar Estrela,
Bendita Mãe de Deus,
Virgem perpétua e bela,
Portal feliz dos céus.


Ouvindo aquele "Ave"
Do anjo Gabriel,
Mudando de Eva o nome,
Trouxeste-nos o Emmanuel.

A culpa extingue, pois,
Dá-nos pureza e paz;
Teu doce nome invoque,
Quem de bondade é capaz.

Dá-nos uma vida pura,
Guia-nos para o caminho,
Para que, vendo Jesus,
Juntos cantemos no céu.

Louvor a Deus, Pai,
Glória ao Senhor que venceu,
E ao Espírito Santo
Por todos os séculos. Amém.

Vinde, Espírito Criador (Veni Creator Spiritus)


Vinde, Espírito Criador,
Visitai as almas dos Vossos fiéis
E enchei com a Vossa divina graça
Os corações que criastes.

Sois o nosso Consolador,
Dom de Deus Altíssimo,
Fonte viva, fogo, amor,
E unção divina da alma.

Com Vossos sete dons,
Sois força na mão do Pai,
Prometida por Ele ao nosso coração,
O que enriquece nossas vozes em louvor.

Iluminai a nossa inteligência,
Derramai amor em nosso coração,
E fortalecei nossas fraquezas
Com Vossa eterna proteção.

Afastai para longe o inimigo,
Dai-nos a paz e as graças
Para que, sendo Vossa guia,
Evitemos tudo o que nos desvia.

Por Vós conheçamos o Pai
E o Filho que de Vós procede,
E que a Vossa eterna glória
Sempre seja a nossa sede.

Glória a Deus Pai e ao Filho,
Que ressuscitou dos mortos,
E ao Espírito Consolador
Por todos os séculos. Amém.

Ladainha da Santíssima Virgem


Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós
Cristo, ouvi-nos
Cristo, atendei-nos
Deus Pai do céu, tende piedade de nós
Deus Filho Redentor do mundo, tende piedade de nós
Deus Espírito Santo, tende piedade de nós
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós

Santa Maria, rogai por nós.
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das virgens,
Mãe de Cristo,
Mãe da Igreja,
Mãe de misericórdia,
Mãe da divina graça,
Mãe da esperança,
Mãe puríssima,
Mãe castíssima,
Mãe sempre virgem,
Mãe imaculada,
Mãe digna de amor,
Mãe admirável,
Mãe do bom conselho,
Mãe do Criador,
Mãe do Salvador,
Virgem prudentíssima,
Virgem venerável,
Virgem louvável,
Virgem poderosa,
Virgem clemente,
Virgem fiel,
Espelho de perfeição,
Sede da Sabedoria,
Fonte de nossa alegria,
Vaso espiritual,
Tabernáculo da eterna glória,
Moradia consagrada a Deus,
Rosa mística,
Torre de Davi,
Torre de marfim,
Casa de ouro,
Arca da aliança,
Porta do céu,
Estrela da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refúgio dos pecadores,
Socorro dos migrantes,
Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos,
Rainha dos Anjos,
Rainha dos Patriarcas,
Rainha dos Profetas,
Rainha dos Apóstolos,
Rainha dos Mártires,
Rainha dos confessores da fé,
Rainha das Virgens,
Rainha de todos os Santos,
Rainha concebida sem pecado original,
Rainha assunta ao céu,
Rainha do santo Rosário,
Rainha da paz.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos, Senhor.

Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós.

Rogai por nós, santa Mãe de Deus.

Para que sejamos dignos das promessas de Cristo

Dia 25 – Leitura do Tratado: Parágrafos 169 a 182

169. Sexto motivo.Esta prática de devoção dá, às pessoas que a praticam fielmente, uma grande liberdade interior, que é a liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8,21). Visto que, por esta devoção, nos tornamos escravos de Jesus Cristo, consagrando-nos todo a Ele nesta condição, este bom Mestre, em recompensa do cativeiro por amor a que nos submetemos, tira, primeiro, à alma todo escrúpulo e temor servil, que a constrangem, escravizam e perturbam; segundo, alarga o coração por uma santa confiança em Deus, fazendo-o considerá-lo como Pai; terceiro, inspira-lhe um amor terno e filial.

170.Sem me deter em amontoar razões para provar esta verdade, contento-me de citar uma passagem histórica que li na vida da Madre Inês de Jesus, religiosa jacobina do convento de Langeac em Auvergne, a qual morreu em odor de santidade nesse mesmo lugar, em 1634. Não tinha ela ainda sete anos, quando, uma ocasião, sofrendo tormentos de espírito, ouviu uma voz que lhe disse que, se ela quisesse livrar-se de todos os seus sofrimentos e ser protegida contra todos os seus inimigos, se fizesse quanto antes escrava de Jesus e de sua Mãe Santíssima. Mal chegou em casa, entregou-se inteiramente a Jesus e Maria, como lhe aconselhara a voz, embora não soubesse antes em que consistia esta devoção; e, tendo encontrado uma corrente de ferro, cingiu-se com ela aos rins e a usou até à morte. Depois disso até todas as suas penas e escrúpulos cessaram, e ela se achou numa grande paz e bem-estar de coração, e isto a levou a ensinar esta devoção a muitas outras pessoas, que fizeram grandes progressos, entre outros, a M. Olier, que instituiu o seminário de São Sulpício, e a muitos outros padres e eclesiásticos do mesmo seminário… Um dia a Santíssima Virgem lhe apareceu e lhe pôs ao pescoço uma cadeia de ouro para lhe testemunhar a alegria de tê-la como escrava de seu Filho e sua; e Santa Cecília, que acompanhava a Santíssima Virgem, lhe disse: Felizes os fiéis escravos da Rainha do céu, pois gozarão da verdadeira liberdade: “Tibi servire libertas”.

ARTIGO VII
Nosso próximo auferre grandes bens desta devoção

171. Sétimo motivo.O que pode ainda nos levar a abraçar esta devoção são os grandes bens que por ela receberá nosso próximo. Pois, praticando-a, exercermos para com ele a caridade de uma maneira eminente, já que lhe damos pelas mãos de Maria o que temos de mais caro, isto é, o valor satisfatório e impetratório de todas as nossas boas obras, sem excetuar o menor dos bons pensamentos e o mais leve sofrimento; consentimos em que tudo que adquirimos, e que havemos de adquirir de satisfações, seja, até à hora da morte, empregado conforme a vontade da Santíssima Virgem, à conversão dos pecadores ou à libertação das almas do purgatório.

Não é isto amar perfeitamente o próximo? Não é este o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo, que se reconhece pela caridade? (Jo 13,35). Não é este o meio de converter os pecadores, sem temer a vaidade, e de livrar as almas do purgatório, sem fazer quase nada mais do que aquilo a que cada um está obrigado em seu estado?

172.Para conhecer a excelência deste motivo, seria preciso conhecer o bem que é converter um pecador ou livrar uma alma do purgatório: bem infinito, maior que criar o céu e a terra, pois que é dar a uma alma a posse de Deus. Mesmo que, por esta prática, não se livrasse mais que uma alma do purgatório, ou se convertesse apenas um pecador, não seria isto bastante para induzir todo homem verdadeiramente caridoso a abraçá-la?

É preciso notar ainda que nossas boas obras, passando pelas mãos de Maria, recebem um aumento de pureza, e, por conseguinte, de mérito e de valor satisfatório e impetratório; por isso elas se tornam muito mais capazes de aliviar as almas do purgatório e de converter os pecadores do que se não passassem pelas mãos virginais e liberais de Maria. O pouco que damos pela Santíssima Virgem, sem vontade própria, e por uma desinteressada caridade, torna-se, em verdade, bem mais potente para abrandar a cólera de Deus e atrair sua misericórdia; e há de verificar-se à hora da morte que uma pessoa fiel a esta prática terá, por este meio, libertado inúmeras almas do purgatório, e convertido muitos pecadores, conquanto só tenha feito as ações comuns e ordinárias de seu estado. Que alegria haverá em seu julgamento! Que glória na eternidade!

ARTIGO VIII
Esta devoção é um meio admirável de perseverança

173. Oitavo motivo. Finalmente, o motivo mais poderoso, que, de certo modo, nos induz a esta devoção à Santíssima Virgem, é constituir um meio admirável para perseverar na virtude e ser fiel. Como se explica que a maior parte das conversões dos pecadores não seja durável? Donde vem a facilidade de recair no pecado? Por que a maior parte dos justos, ao invés de avançar de virtude em virtude e adquirir novas graças, perdem muitas vezes o pouco de virtudes e graças que tinham? Esta infidelidade provém, como já o demonstrei (cf. n. 87-89), de que o homem, sendo tão corrompido, tão fraco e tão inconstante, fia-se em si próprio, e crê-se capaz de guardar o tesouro de suas graças, virtudes e méritos.

Por esta devoção confiamos à Santíssima Virgem, fiel por excelência, tudo o que possuímos; tomamo-la por depositária universal de todos os bens da natureza e da graça. É em sua fidelidade que confiamos, no seu poder que nos apoiamos, em sua misericórdia e caridade que nos baseamos, para que ela conserve e aumente nossas virtudes e méritos, a despeito do demônio, do mundo e da carne, que envidam todos os esforços para no-los arrebatar. Dizemo-lhes como um bom filho à sua mãe: “Depositum custodi” (1Tm 6,20), isto é, minha boa Mãe e Soberana, reconheço que até ao presente muito mais graças tenho de Deus recebido por vossa intercessão do que mereço, e minha funesta experiência me ensina que bem frágil é o vaso em que guardo esse tesouro, e que por demais fraco e miserável eu sou, para conservá-lo em mim: “adoloscetnulus sum ergo et contemptus” (Sl 118,141); recebei em depósito tudo o que possuo, e conservai-mo por vossa fidelidade e vosso poder. Se me guardardes, nada perderei; se me sustentardes, não cairei; se me protegerdes, estarei a salvo de meus inimigos.

174. É o que diz São Bernardo para inspirar-nos esta prática: “Enquanto Maria vos sustenta, não caís; enquanto vos protege, não temeis; enquanto vos conduz, não vos fatigais; e, sendo-vos propícia, chegareis ao porto de salvação: Ipsa tenente, non corruis; ipsa prote­gente, non metuis; ipsa duce, non fatigaris; ipsa propitia, pervenis”. O mesmo parece dizer São Boaventura em termos ainda mais claros: A Santíssima Virgem, diz ele, está não só detida na plenitude dos santos, mas também guarda e detém os santos na plenitude para que esta não diminua; impede que suas virtudes se dissipem, que seus méritos pereçam, que se percam suas graças, que os prejudiquem os demônios; impede, por fim, que Nosso Senhor castigue os pecadores: “Virgo non solum in plenitudine sanctorum detinetur, sed etiam in plenitudine sanctos detinet, ne plenitudo minuatur; detinet virtutes ne fugiant; detinet merita ne pereant; detinet gratias ne effluant; detinet daemones ne noceant; detinet Filium ne peccatores percutiat”.

175. A Santíssima Virgem é a Virgem fiel que, por sua fidelidade a Deus, repara as perdas que Eva infiel causou por sua infidelidade, e que obtém de Deus a fidelidade e a perseverança para aqueles que a ela se apegam. Por isso um santo a compara à âncora firme, porque os retém e impede de soçobrar no mar agitado deste mundo, onde tantas pessoas naufragam por não se firmarem nesta âncora inabalável. “Prendemos, diz ele, as almas à vossa esperança, como a uma âncora firme: Anim­as ad spem tuam sicut ad firmam anchoram alligamus”. Foi a ela que os santos mais se agarraram, e prenderam os outros, com o fito de perseverar na virtude. Felizes, mil vezes felizes os cristãos que agora se apegam fiel e inteiramente a ela, como a uma âncora firme. Os arrancos da tempestade deste mundo não os farão submergir, nem perder os tesouros celestes. Bem-aventurados os que nela buscam abrigo como na arca de Noé. As águas do dilúvio de pecados, que afogam tanta gente, não lhes farão mal, pois: “Qui operantur in me non peccabunt” – os que se guiam por mim não pecarão (Eclo 24,30), diz ela com a Sabedoria. Bem-aventurados os filhos fiéis da desgraçada Eva que se apegam à Mãe e Virgem fiel, que permanecem sempre fiéis e que não faltam jamais à sua palavra: “Fidelis permanet, se ipsam negare non potest”, e que ama aqueles que a amam: “Ego diligentes me diligo” (Pr 8,17), não só de um amor afetivo, mas de um amor efetivo e eficaz, impedindo-os, por uma grande abundância de graças, de recuar na virtude, ou de cair no caminho, perdendo a graça de seu Filho.

176. Esta boa Mãe recebe sempre, por pura caridade, tudo que lhe entregamos em depósito; e, desde que ela o recebeu como depositária, é obrigada por justiça, em virtude do contrato de depósito, a guardá-lo para nós; do mesmo modo que uma pessoa, a quem eu confiasse mil escudos, seria obrigada a guardá-los para mim, de tal modo que se, por sua negligência, meus mil escudos se perdessem, seria ela, e não o ladrão, a responsável. Mas isto não acontece, pois Maria, a Virgem fiel, jamais deixaria se perder, por sua negligência, o que lhe tivéssemos confiado. Antes passarão o céu e a terra do que se dar esse caso de ela ser negligente e infiel para com aqueles que dela se fiam.

177. Pobres filhos de Maria! extrema é vossa fraqueza, grande, vossa inconstância, viciado, o vosso íntimo! Sois, eu o confesso, da mesma massa corrompida que os filhos de Adão e Eva; mas não percais por isso a coragem; consolai-vos, regozijai-vos: eis o segredo que vos ensino, segredo desconhecido de quase todos os cristãos, até dos mais devotos.
Não deixeis vosso ouro e vossa prata nos cofres, já forçados pelo espírito maligno que vos roubou, cofres por demais exíguos e fracos e velhos para conter um tesouro tão grande e tão precioso. Não depositeis a água pura e cristalina da fonte em vossos vasos manchados e infeccionados pelo pecado. Pode ser que o pecado aí já não esteja, mas o odor permanece ainda e a água ficará contaminada. Não despejeis vosso vinho fino em velhos tonéis que já contin­veram vinho ordinário: ficará estragado e o perdereis.

178. Embora me entendais, almas predestinadas, falo mais abertamente. Não confieis o ouro de vossa caridade, a prata de vossa pureza, as águas das graças celestes, nem os vinhos de vossos méritos e virtudes a um saco roto, a um cofre velho e quebrado, a um vaso contaminado e corrompido, como vós sois; porque sereis pilhados pelos ladrões, isto é, os demônios, que buscam e espreitam, noite e dia, o momento próprio para o ataque; estragareis, com o mau odor do amor-próprio, da confiança própria e da vontade própria, tudo o que Deus vos dá de mais puro.
Depositai, derramai no seio e no coração de Maria todos os vossos tesouros, todas as vossas graças e virtudes. Maria é um vaso espiritual, um vaso honorífico, um vaso insigne de devoção: “Vas spirituale, vas honorabile, vas insigne devotionis”. Depois que aí se encerrou o próprio Deus em pessoa, com todas as suas perfeições, este vaso tornou-se todo espiritual, e a morada espiritual das almas mais espirituais. Tornou-se honrável, e o trono de honra dos maiores príncipes da eternidade. Tornou-se insigne na devoção e a morada dos mais ilustres em doçura, em graças e virtudes. Tornou-se, enfim, rico como uma casa de ouro, forte como a torre de Davi, puro como uma torre de marfim.

179. Oh! quão feliz é o homem que tudo deu a Maria e que nela confia em tudo e por tudo. Ele é todo de Maria e Maria é toda dele. Pode dizer afoitamente com David: “Haec facta est mihi”: Maria foi feita para mim” (Sl 118,56); ou com o discípulo amado: “Accepi eam in mea” (Jo 19,27) – Eu a tomei como toda a minha riqueza; ou com o próprio Jesus Cristo: “Omnia mea tua sunt, et omnia tua mea sunt: Todas as minhas coisas são tuas, e as tuas são minhas” (Jo 17,10).

180. Se algum crítico, ao ler isto, achar que falo exageradamente e por excesso de devoção, infeliz dele, pois não me compreende, ou por ser um homem carnal que não aprecia as coisas do espírito, ou por ser do mundo que não pode receber o Espírito Santo, ou, ainda, por ser orgulhoso e crítico, que condena e despreza o que não entende. As almas, porém, que não nasceram do sangue nem da vontade da carne (Jo 1,13) mas de Deus e de Maria, me compreendem e apreciam; e é para elas, afinal, que eu escrevo.

181. Digo, entretanto, para uns e outros, voltando ao assunto interrompido, que Maria Santíssima, porque é a mais honesta e a mais generosa de todas as puras criaturas, não se deixa vencer jamais em amor e liberalidade. E por um ovo, diz um santo homem ela dá um boi, isto é, por pouco que lhe demos ela dá mais do que recebeu de Deus; e, por conseguinte, se uma alma se lhe entrega sem reserva, ela se dá a esta alma também sem reserva, se ela nela depositamos toda a nossa confiança, trabalhando de nosso lado em adquirir as virtudes e domar as paixões.

182. Que os fiéis servidores de Maria digam, pois, ousadamente com São João Damasceno: “Tendo confiança em vós, ó Mãe de Deus, serei salvo; tendo vossa proteção, não temerei; com vosso auxílio, combaterei os meus inimigos e os porei em fuga; pois vossa devoção é uma arma de salvação que Deus dá a quem quer salvar: Spem tuam habens, o Deipara, servabor; defensionem tuam possidens, non timebo; persequar inimicos meos et in fugam vertam, habens protectionem tuam et auxilium tuum; nam tibi devotum esse est arma quaedam salutis quae Deus his dat quos vult salvos fieri” (Sermo de Annunc).

Conclusão: Nas mãos de Maria, encontramos força, fidelidade e vitória

Depois de tudo o que meditamos hoje, fica claro: não há lugar mais seguro, nem caminho mais firme, do que aquele trilhado por meio de Maria. A consagração total à Santíssima Virgem nos livra do peso de depender unicamente de nossas forças frágeis. Ela nos ensina o verdadeiro abandono – não aquele passivo, mas o abandono de quem confia ativamente e caminha com coragem.

O Tratado nos apresenta testemunhos fortes: santos que confiaram plenamente em Maria, almas simples que venceram grandes provações, e até mesmo palavras inspiradas como as de São João Damasceno:
“Tendo confiança em vós, ó Mãe de Deus, serei salvo; tendo vossa proteção, não temerei.”

Maria é a âncora firme que impede nosso naufrágio espiritual. É a vaso puro onde depositamos nossos méritos e virtudes para que não se percam. É a guardiã fiel que jamais abandona os que se entregam com amor. Aqueles que se fizeram seus escravos por amor, foram na verdade feitos livres: livres do medo, da vaidade, da oscilação, da ilusão, da heresia e do pecado.

🙏 Que neste dia, renovemos nosso desejo de sermos inteiramente de Maria, para sermos inteiramente de Jesus. Que possamos exclamar com o coração inflamado:
“Totus tuus ego sum, et omnia mea tua sunt.”
Sou todo teu, Maria, e tudo o que tenho te pertence.

E assim, com confiança serena e firmeza no amor, seguimos nesta consagração: não como quem carrega um fardo, mas como quem encontrou um tesouro escondido — aquele que, por Maria, nos conduz ao próprio Cristo.



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